Mais de 130 profissionais de saúde de 54 municípios que integram a área de atuação da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Montes Claros participaram, na terça-feira, 6 de junho, de capacitação - por meio de vídeoconferência - sobre o manejo clínico de pessoas vítimas de acidentes com animais peçonhentos. A iniciativa, conduzida pelas coordenadorias de vigilância epidemiológica e de saúde da SRS Montes Claros, contou com a participação do médico de saúde da família do município de Montes Claros, Mariano Fagundes Neto Soares. 

Com destaque para os acidentes com escorpiões, serpentes, abelhas e formigas, Mariano Fagundes observou a importância da atualização dos profissionais de saúde quanto ao diagnóstico e tratamento de pessoas vítimas de acidentes com animais peçonhentos, levando em conta que entre junho e novembro é a época do ano que mais casos são notificados. Em todo o país, 47% dos acidentes envolvem escorpiões; 18,2% aranhas e 17,5% dos casos estão relacionados a serpentes. 

Assim como em outros estados, Mariano lembrou que no Norte de Minas os acidentes com escorpiões do gênero Tityus serrulatus (mais conhecido como escorpião amarelo) apresentam maior incidência, com prevalência de casos graves vitimando crianças com idade entre 1 e 4 anos. “O atendimento rápido das vítimas de acidentes com escorpiões, no prazo de até uma hora e meia, é de fundamental importância para evitar que as crianças evoluam para situações graves de saúde. Para isso, os municípios precisam ter serviços de saúde bem organizados, incluindo suporte avançado para o atendimento de casos graves, pois a demora pode causar problemas cardiocirculatórios e pulmonares, e evoluir para a ocorrência de óbitos”, frisou o médico.

Foto: Pedro Ricardo

Ele observou que os profissionais dos serviços de vigilância em saúde devem orientar a população para manter seus imóveis limpos, sem acúmulo de materiais de construção ou de lixo, o que proporciona a atração de baratas e moscas. Isso porque, além dos escorpiões serem resistentes à falta de alimentação e água, eles se adaptam aos ambientes onde se encontram, possuem hábitos noturnos e são difíceis de serem eliminados devido à falta de veneno específico.

Já em relação a acidentes com serpentes, Mariano Fagundes explicou que a maior incidência de casos no Norte de Minas envolve a espécie Bothrops (jararacas).

“O ofidismo (acidente com serpentes) é uma doença negligenciada, apesar de ocupar o sétimo lugar em prevalência no país”, advertiu o médico, ao explicar que o tempo máximo de três horas para o atendimento das vítimas é o fator que mais vai impactar na recuperação ou não da pessoa. “O uso de botas fechadas e não colocar torniquete na parte do corpo atacado por uma serpente é muito importante para evitar complicações de saúde”, pontuou Mariano.

Quanto aos acidentes com abelhas e formigas, Fagundes observou que isso se deve ao aumento do desmatamento e do ecoturismo, que tem exposto as pessoas a esses insetos. No caso das abelhas, pelo fato de não haver soro específico para tratamento das vítimas de acidentes, o atendimento médico deve ser o mais rápido possível, visando evitar que a pessoa evolua para situação grave de insuficiência renal; reações alérgicas; vasodilatação e risco de anafilaxia.

 

Prevenção

A referência técnica das coordenadorias de vigilância epidemiológica e de saúde da SRS Montes Claros, Amanda de Andrade Costa, lembra que o risco de acidentes com animais peçonhentos pode ser reduzido, com as pessoas tomando algumas medidas simples para prevenção: usar calçados e luvas nas atividades rurais e de jardinagem; examinar calçados, roupas pessoais, de cama e banho antes de usá-las; afastar camas das paredes e evitar pendurar roupas fora de armários; não acumular entulhos e materiais de construção; limpar regularmente móveis, cortinas, quadros, cantos de parede; vedar frestas e buracos em paredes, assoalhos, forros e rodapés.

Também é recomendada a utilização de telas, vedantes ou sacos de areia em portas, janelas e ralos; manter limpos os locais próximos das casas, jardins, quintais, paióis e celeiros; evitar plantas tipo trepadeiras e bananeiras junto às casas e manter a grama sempre cortada; limpar terrenos baldios, pelo menos na faixa de um a dois metros junto ao muro ou cercas. Para proteção individual, Amanda Costa observa que a dica é, “no amanhecer e no entardecer, evitar a aproximação da vegetação muito próxima ao chão, gramados ou até mesmo jardins, pois é nesse momento que as serpentes estão mais ativas. Além disso, as pessoas devem evitar mexer em colmeias e vespeiros”, disse Amanda. 

 

Tratamento

Em 2019, a SRS Montes Claros criou 18 polos para atendimento de pessoas vítimas de animais peçonhentos. A coordenadora de vigilância em saúde da SRS, Agna Soares da Silva Menezes, explica que “o objetivo é agilizar os tratamentos e, com isso, reduzir as possibilidades de ocorrência de óbitos”. 

Além de evitar o desabastecimento de soro nas microrregiões de saúde, a definição dos polos estratégicos levou em consideração informações epidemiológicas e geográficas. Com isso, além do Hospital Universitário Clemente de Faria (HUCF) sediado em Montes Claros, outras 17 unidades hospitalares de referência na região passaram a ter disponibilidade de soro. Estão sediadas nos seguintes municípios: Bocaiúva; Coração de Jesus; Espinosa; Grão Mogol; Francisco Sá; Jaíba; Janaúba; Mato Verde; Mirabela; Monte Azul; Montezuma; Ninheira; Porteirinha; Rio Pardo de Minas; São João do Paraíso; Salinas e Taiobeiras.

 

Por Pedro Ricardo

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