Com quatro casos de febre maculosa confirmados em Montes Claros e um aguardando resultado de terceira análise laboratorial, nesta quarta-feira (25/9), o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs) reforçou com coordenadores de núcleos hospitalares de epidemiologia, de serviços municipais de vigilância epidemiológica e de saúde a necessidade de intensificação das ações contra a doença. Isso porque, o período entre abril e outubro é a época propícia para a disseminação do agravo devido à proliferação de carrapatos. A notificação de casos suspeitos é obrigatória. Em casos graves, pode ocorrer óbitos.

Agna Soares da Silva Menezes, coordenadora do Cievs e da Vigilância em Saúde na Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Montes Claros, explica que “além da época propícia para a disseminação da doença, ela pode ser confundida com outros agravos, entre eles dengue, zika, chikungunya, leptospirose, infecções respiratórias e enteroviroses. Por isso, o diagnóstico preciso e o atendimento adequado de pacientes nos serviços de Atenção Primária à Saúde (APS) é de fundamental importância para evitar a ocorrência de óbitos”.

25.09.2024-1 curso febre maculosa Montes Claros-Pedro Ricardo

Dos 54 municípios da área de atuação da Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros, até o momento 53 localidades não tiveram casos confirmados da doença. “Por isso, para a identificação de locais onde há carrapatos infectados pela bactéria Rickettsia, é de fundamental importância a coleta de vetores em hospedeiros (cães e cavalos) para a realização de exames laboratoriais. Com informações consistentes os municípios terão condições de definir a implementação de ações de educação em saúde, incluindo o repasse de orientações à população quanto à prevenção”, reforçou Patrícia Brito, referência técnica da SRS, durante reunião do Cievs realizada por videoconferência.

Neste ano em Salinas, a coleta de amostras de sangue em cães possibilitou a identificação de sorologias reagentes à bactéria Rickettsia. “Daí a importância da intensificação dos trabalhos de vigilância ambiental, incluindo a coleta de carrapatos em animais e em áreas de vegetação com a utilização da técnica de arrasto”, finalizou Patrícia Brito.

Em agosto de 2023 a SRS realizou em Montes Claros curso teórico e prático sobre a investigação entomológica da febre maculosa. A iniciativa contou com a participação de técnicos do Ministério da Saúde (MS) que atuam na Fundação Ezequiel Dias (Funed) e envolveu profissionais de Claro dos Poções, Francisco Sá, Jaíba, Janaúba, Matias Cardoso, Mato Verde, Monte Azul, Montes Claros, Salinas e Verdelândia. Eles foram orientados a atuar como multiplicadores da capacitação nos municípios de origem.

25.09.2024-1 vigilância febre maculosa-Pedro Ricardo

Entre 2014 e 2024 foram notificados 95 casos suspeitos de febre maculosa em onze municípios da área de abrangência da SRS Montes Claros. Estão distribuídos da seguinte forma: Montes Claros (78); Claro dos Poções (3); Bocaiuva, Engenheiro Navarro, Francisco Sá, Monte Azul e Salinas (dois casos notificados em cada localidade); Francisco Dumont, Grão Mogol, Riacho dos Machados e São João da Lagoa (um caso em cada município).

Dados Sistema de Informações de Agravos de Notificação (Sinan) apontam que,do total de casos notificados de febre maculosa na área de jurisdição da SRS, seis foram confirmados em Montes Claros: um caso em 2023 e quatro neste ano (três na zona urbana e um em comunidade rural).

A doença
Agna Menezes, coordenadora do Cievs e da Vigilância em Saúde na SRS Montes Claros, lembra que a febre maculosa é uma doença febril aguda, de gravidade variável, que pode cursar com formas leves e atípicas, até situações graves com elevada taxa de letalidade.

Os principais sintomas são: febre; dor de cabeça intensa; náuseas e vômitos; diarreia; dor abdominal; dor muscular constante; inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e sola dos pés; gangrena nos dedos e orelhas; paralisia dos membros que inicia nas pernas e vai subindo até os pulmões causando parada cardiorrespiratória.

Os cavalos, canídeos (cães, lobos, chacais, coiotes e raposas), roedores como a capivara e marsupiais, como gambá, têm importante participação no ciclo de transmissão da febre maculosa. Eles podem atuar como amplificadores de riquétsias e/ou transportadores de carrapatos potencialmente infectados.

Em Minas Gerais, os principais vetores e reservatórios da febre maculosa são os carrapatos do gênero Amblyomma, também conhecidos como “carrapato estrela”, “carrapato de cavalo” ou “rodoleiro”. Já o agente etiológico mais frequente é a bactéria Rickettsia rickettsii, responsável por produzir os casos mais graves da doença.

O tratamento é realizado com antimicrobianos e deve ser iniciado de forma precoce, nas fases iniciais da doença, como forma de evitar complicações e óbitos. Se não tratado, o paciente pode evoluir para um estágio de apatia e confusão mental, com frequentes alterações psicomotoras, chegando ao coma profundo.

Prevenção
Entre as medidas preventivas recomendadas à população pelo Cievs estão: uso de roupas claras para ajudar na identificação de carrapatos; uso de calças, botas e blusas com mangas compridas ao caminhar em áreas arborizadas e gramadas; evitar andar em locais com grama ou vegetação alta; uso de repelentes contra carrapatos; verificar se pessoas e animais de estimação não estão com carrapatos; remover carrapatos em pessoas com uso de pinça, evitando apertá-los ou esmagá-los.

Já os municípios devem intensificar o manejo ambiental, independente da confirmação da circulação da bactéria Rickettsia, a serem adotadas prioritariamente para o controle de carrapatos em todas as áreas infestadas; realizar vigilância dos vetores, enviando amostras para a realização de análises no laboratório da Funed; e notificar os casos suspeitos em até 24 horas e investigá-los.

Por Pedro Ricardo / Foto: Pedro Ricardo