Com previsão de ser submetido à apreciação da Comissão Intergestores Bipartite do Sistema Único de Saúde (CIB-SUS) no primeiro trimestre de 2025, a Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais (SES-MG) vai concluir ainda no segundo semestre deste ano a elaboração de um projeto voltado para o fortalecimento das ações de enfrentamento à doença de Chagas. A construção da proposta envolverá as equipes técnicas de vigilância epidemiológica e de saúde do nível central da SES-MG e das Unidades Regionais de Saúde, uma vez que as ações serão implementadas de forma prioritária nas regiões que apresentam as maiores incidências da doença.

O anúncio da iniciativa foi feito sexta-feira, 23 de agosto, pelo subsecretário de Vigilância em Saúde da SES-MG, Eduardo Campos Prosdocimi, ao participar de encontro do Projeto CUIDA Chagas, no município de Janaúba. O evento reuniu equipes técnicas da Fundação Oswaldo Cruz (Fioocruz), da SES-MG e da Secretaria Municipal de Saúde de Janaúba.

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O CUIDA Chagas é uma iniciativa internacional inovadora, financiado pelo Governo Federal por meio do Ministério da Saúde (MS), e pela Unitaid, agência global ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS) que, no Brasil, Bolívia, Colômbia, e Paraguai está colocando em prática a realização do diagnóstico precoce da doença de Chagas com a utilização de testes rápidos.

A partir de uma estratégia que combina estudos de implementação e inovação, engajamento comunitário e intervenção no mercado, o Projeto busca contribuir para a eliminação da transmissão vertical (de mães para bebês) da doença de Chagas. Nesse contexto, mulheres em idade fértil, crianças e contatos domiciliares são os principais beneficiários de um conjunto de intervenções.

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Até 2025, pesquisadores da Fiocruz, com apoio de profissionais de saúde de serviços de atenção primária dos municípios selecionados, vão definir quais testes rápidos são mais eficazes para o diagnóstico e as melhores formas de tratamento clínico de pacientes, que poderão ser replicadas em diferentes contextos. A proposta é reduzir o tempo de tratamento de pacientes entre 30 e 60 dias, antes que a doença evolua para a fase crônica com complicações cardiológicas e digestivas.

“Investir nas ações de vigilância epidemiológica e de saúde, viabilizando o diagnóstico precoce da doença de Chagas é de fundamental importância para diminuirmos a incidência de uma doença ainda negligenciada no país. A proposta de trabalho que a SES-MG pretende colocar em prática a partir de 2025 possibilitará às pessoas acometidas pelo agravo vislumbrar o acesso em tempo oportuno a tratamento adequado e, consequentemente, à obtenção de uma qualidade de vida melhor”, frisou Eduardo Prosdocimi.

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Na mesma linha de raciocínio, o médico e secretário municipal de Saúde de Janaúba, Helvécio Campos de Albuquerque disse que “com uma política pública clara de intervenção, que invista em ações preventivas, diagnóstico rápido e tratamento adequado de pessoas acometidas pela doença de Chagas, será possível o estado e o país vislumbrar a redução da incidência da doença ou mesmo a sua erradicação. Isso evitará que muitas vidas continuem sendo precocemente ceifadas, quando as pessoas ainda estariam na fase mais produtiva”.

A superintendente de Vigilância em Saúde da SES-MG, Aline Lara Cavalcanti Oliva lembrou que a inserção do Norte de Minas no Projeto CUIDA Chagas “constitui uma oportunidade de ampliar a abordagem da doença não apenas no contexto da saúde, mas da sociedade como um todo, levando em conta ser um problema relevante nos aspectos sociais, econômicos e de saúde”.

Por sua vez a superintendente regional de Saúde de Montes Claros, Dhyeime Thauanne Pereira Marques, lembrou que “o trabalho conjunto do Ministério da Saúde, da Fiocruz e do Governo do Estado é uma iniciativa importante e determinante para o enfrentamento da doença de Chagas ainda muito negligenciada no país. Abordar o problema numa região como o Norte de Minas, que possui alta incidência de Chagas, é importante no sentido de garantir um direito fundamental à população que é o acesso à saúde e aos tratamentos adequados”, pontuou a superintendente.

Capacitações
Já a médica cardiologista e pesquisadora do Projeto Cuida Chagas, Fernanda Sardinha, observou que “a doença de Chagas apesar de ter tratamento e, quando diagnosticada em bebês com até três meses de vida possibilita mais de 99% de possibilidade de cura, acomete anualmente cerca de 4,6 milhões de pessoas no país. Porém, a estimativa é de que apenas 10% das pessoas infectadas pelo Trypanosoma cruzi, causador da doença, são diagnosticadas o que torna a situação um problema de saúde pública”.

Nesse contexto, observou a médica, o fortalecimento dos serviços de atenção primária à saúde com investimento na capacitação de Agentes Comunitários de Saúde (ACS), enfermeiros e médicos é medida necessária para viabilizar o diagnóstico precoce e o acompanhamento das pessoas acometidas por Chagas.

No caso das mulheres em idade fértil, entre 10 e 49 anos, Fernanda Sardinha frisou que a realização de testes rápidos para a doença de Chagas constitui medida importante para viabilizar a interrupção da transmissão da doença para recém-nascidos. Além disso, a testagem rápida e a confirmação de diagnósticos por meio da realização de exame de sorologia, possibilita que os serviços de saúde também realizem a testagem nas demais pessoas de contato da paciente.

O projeto
A coordenadora de Vigilância em Saúde da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Montes Claros, Agna Soares da Silva Menezes, explica que, assim como outras doenças negligenciadas, Chagas está associada a condições de vida de vulnerabilidade. Apesar de ter cura, a doença é responsável pela morte de, aproximadamente, 500 mil pessoas por ano.

O Projeto CUIDA Chagas atua no Norte de Minas nos municípios de Janaúba e Montes Claros, com a participação da SES-MG por meio das referências técnicas da Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros, Nilce Almeida Fagundes, Bartolomeu Teixeira Lopes e Núbia Pereira. Nas demais regiões do país a Fiocruz desenvolve estudos em municípios do Rio Grande do Sul, Bahia, Goiás, Pará, Amazonas, Pernambuco e no Rio de Janeiro.

Além da Fiocruz e do Ministério da Saúde também participam do Projeto a Fundação para o Desenvolvimento Científico Tecnológico em Saúde (Fiotec), que atua em parceria com o Instituto Nacional de Laboratórios de Salud (INLASA), sediado na Bolívia; o Instituto Nacional de Salud (INS), da Colômbia; o Servicio Nacional de Erradicación del Paludismo (SENEPA), do Paraguai; e a Aliança Global para Diagnósticos (FIND).

Informações detalhadas sobre o Projeto CUIDA Chagas podem ser obtidas através dos seguintes links: Site: https://cuidachagas.org/ Instagram: https://www.instagram.com/cuidachagas/ E-mail: info@cuidachagas.org

Por Pedro Ricardo / Fotos: Pedro Ricardo - SRS Montes Claros