Com o objetivo de realizar de forma sistemática e rotineira a detecção da introdução e circulação dos arbovírus de interesse à saúde pública (dengue, zika, chikungunya, febre amarela, febre de mayaro e da febre de oropouche), a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) está articulando a implantação de 28 serviços de vigilância sentinela em todas macrorregiões de saúde do estado. No Norte de Minas, os serviços estão previstos para serem implementados em Montes Claros (Hospital Alpheu de Quadros); Januária (Hospital Senhora Santana) e, em Pirapora (Hospital Dr. Moisés Magalhães Freire).

A nota técnica emitida neste mês pela SES-MG, em conjunto com o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs-Minas), lembra que “em 2023 e 2024 Minas Gerais enfrentou epidemias consecutivas de dengue e chikungunya, sendo a última a maior da série histórica destas doenças, que já são endêmicas no estado. Ademais, no ano de 2024 foram confirmados, por critério laboratorial, casos da febre de oropouche”.

14.08.2024-Divulgação Hospital Alpheu de Quadros-Montes Claros

Com a identificação da doença em estados vizinhos, Minas Gerais iniciou trabalho de ampliação da vigilância laboratorial, visando melhor entender o cenário. Com isso, a realização de uma vigilância ativa, com análise de amostras aleatórias, com resultado não detectável para dengue e chikungunya, permitiu a detecção de casos da febre oropouche em Minas Gerais, com maior concentração na macrorregião de Saúde Vale do Aço.

A SES-MG reforça que “conforme as diretrizes da Organização Pan-Americana da Saúde para a vigilância de arbovírus, dada a similaridade na apresentação clínica e o atual cenário com a circulação de arbovírus reemergentes, a vigilância laboratorial é essencial para confirmar a circulação e monitorar o cenário epidemiológico”.

Com a implantação dos serviços de vigilância sentinela, a SES-MG entende que, a partir da análise do cenário epidemiológico, “será possível definir ações prioritárias de intervenção e implementar medidas de enfrentamento adequadas e oportunas”.

Critérios
Agna Soares da Silva Menezes, coordenadora do Cievs Regional de Montes Claros e da Vigilância em Saúde na Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Montes Claros, explica que a seleção das unidades sentinela foi baseada em critérios pré-estabelecidos e avaliados pela SES-MG em conjunto com Cievs-Minas. Também participaram as coordenações estaduais de Laboratórios de Saúde Pública, Arboviroses e Controle Vetorial e as áreas técnicas das unidades regionais de saúde.

Entre os critérios adotados estão: número de notificações de arboviroses pela unidade de saúde; quantidade de atendimento de pessoas com suspeitas de terem contraído arboviroses; as unidades de saúde que sejam referências nas regiões para o atendimento de casos de arboviroses e que realizam coleta de amostras para pesquisa por biologia molecular, com encaminhamento para o laboratório da Fundação Ezequiel Dias (Funed), sediado em Belo Horizonte.

Por semana, cada unidade sentinela deverá coletar até cinco amostras de soro para análise laboratorial, mediante o cumprimento da definição de caso e oportunidade de coleta com até cinco dias de início dos sintomas. As amostras deverão ser escolhidas aleatoriamente entre os pacientes atendidos nas unidades sentinelas. Cada amostra passará por testagem simultânea para dengue, febre amarela, chikungunya, zika, febre de mayaro e oropouche.

As amostras deverão ser acondicionadas em botijão de nitrogênio líquido ou em caixa apropriada para transporte de material biológico, utilizando gelo seco ou gelo comum em quantidade suficiente para manter a amostra congelada.

Agna Menezes lembra que todos os serviços de saúde são obrigados a notificar todo caso suspeito de arboviroses, conforme portarias publicadas pelo Ministério da Saúde (MS). “Isso é importante para o fornecimento de indicadores epidemiológicos que apoiem a Secretaria de Estado de Saúde, o Ministério da Saúde e os municípios na definição de grupos e áreas prioritárias de intervenção e a organização dos serviços de saúde”, reforça a coordenadora.

Cenário
O Boletim Epidemiológico publicado pela SES-MG nesta segunda-feira, 12 de agosto, aponta que neste ano o estado contabiliza mais de 1,6 milhão de casos prováveis de dengue. Desse total, 1.156.665 casos foram confirmados para dengue. Até o momento foram confirmados 910 óbitos e outros 565 estão em investigação.

Com relação à febre chikungunya Minas Gerais possui 157.151 casos suspeitos; 127.990 casos confirmados; 98 óbitos causados pela doença e 31 em investigação. Já os casos suspeitos de zika somam 226; sendo que 43 foram confirmados, sem ocorrência de óbitos.

Oropouche
Até o dia 7 de agosto, a Funed identificou 148 amostras que testaram positivo para a febre oropouche no estado. Estão distribuídos da seguinte forma: Joanésia (96 casos); Coronel Fabriciano (30); Timóteo (15); Ipatinga (3); Coroaci (2); Congonhas e Gonzaga (1 caso em cada localidade).

Também, foram confirmados três casos de oropouche em Belo Horizonte de pessoas residentes no município de Botuverá, em Santa Catarina.

A doença é transmitida pela picada do mosquito Culicoides paraenses ou Culex quinquefasciatus, mais conhecido como maruins, mosquitos pólvora, polvinha, mosquitos do mangue, maruim, meruim, ou meruí, que significa mosca pequena. As picadas podem causar desconforto, insônia e irritabilidade.

Trata-se de mosquitos que habitam locais úmidos. A proximidade do vetor com habitações humanas é fator de risco importante para a transmissão da febre oropouche. Para o controle dos vetores é recomendado o fortalecimento da vigilância entomológica; mapeamento das áreas urbanas, periurbanas e rurais com condições para o desenvolvimento de potenciais vetores; incentivo às boas práticas agrícolas para evitar o acúmulo de resíduos que funcionem como locais de reprodução e repouso de mosquitos; preenchimento ou drenagem de poças, lagoas e locais de alagamento; eliminação de vegetação rasteira ao redor de construções.

Além disso, é recomendada a proteção de residências com telas de malha fina nas portas e janelas; uso de roupas que cubram as pernas e braços; uso de repelentes e de mosquiteiros.

Não há vacinas ou medicamentos antivirais específicos para a febre oropouche. O tratamento indicado é, sobretudo, para amenizar os sintomas apresentados. A evolução dos casos geralmente é benigna, com resolução em aproximadamente uma semana. O paciente deve fazer repouso e tomar medicamentos para dor, febre ou para controlar o vômito. Os casos que evoluem com complicações, como quadros neurológicos ou de hemorragia, devem ser acompanhados por um médico e, algumas vezes, precisam de internação.

Por Pedro Ricardo / Foto: Divulgação Hospital Alpheu de Quadros - em Montes Claros