Com 147 casos de febre de oropouche confirmados neste ano em Minas Gerais, nesta quarta-feira (31/7), a Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Montes Claros reforçou com os 54 municípios que compõem a sua área de atuação a importância das ações de vigilância epidemiológica e de saúde contra a doença. O alerta é do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs) e aconteceu durante reunião do Comitê de Monitoramento de Eventos (CME), realizada por meio de videoconferência.

“As gestantes e os recém-nascidos precisam obter atenção especial dos serviços de saúde com relação às arboviroses sobretudo neste momento em que está havendo aumento de casos notificados e confirmados de febre oropouche”, frisou a coordenadora de Vigilância em Saúde e do Cievs Regional de Montes Claros, Agna Soares da Silva Menezes.

Divulgação Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - Inpa

A coordenadora observou que a doença tem sintomas parecidos com os da dengue e da febre chikungunya, o que compreende dores de cabeça, muscular e nas articulações, além de náuseas e diarreia. “Por esse motivo, é importante que todos os serviços de saúde estejam atentos e realizem a coleta de amostras para análise laboratorial, a fim de que seja possível identificar e notificar, em tempo oportuno, as causas de adoecimento da população, incluindo a febre oropouche”, alertou Agna Menezes.

Dados da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) apontam que, até o dia 30 de julho, o Laboratório Central de Saúde Pública da Fundação Ezequiel Dias (Funed) identificou 147 amostras que testaram positivo para a febre oropouche. Os casos estão distribuídos da seguinte forma: 96 em Joanésia; 30 em Coronel Fabriciano; 15 em Timóteo e 3 em Ipatinga. Em Congonhas, Coroaci e Gonzaga foram confirmados um caso da doença em cada localidade.

Além de abordar o tema na reunião desta quarta-feira, o Cievs Regional de Montes Claros encaminhou para os municípios e para os núcleos hospitalares de vigilância epidemiológica um comunicado da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) alertando sobre a situação da febre oropouche nas Américas e a ocorrência de transmissão vertical da doença (de mãe para filho) no Brasil.

A transmissão vertical ocorreu no município de Rio Formoso, estado de Pernambuco. Envolveu uma gestante sem histórico de viagem. A detecção da morte fetal aconteceu em junho e, de acordo com exames laboratoriais realizados no Instituto Evandro Chagas, foi confirmada a transmissão vertical da doença.

De acordo com a Opas, até o dia 16 de julho foram confirmados 7.688 casos de febre oropouche na região das Américas: Brasil (6.976); Bolívia (313); Peru (287); Cuba (74) e Colômbia (38).
No Brasil a maioria dos casos foram registrados na região Norte. A região amazônica é considerada endêmica, concentrando 78% dos casos: Amazônia (3.228); Rondônia (1.713); Acre (263); Roraima (191); Pará (74) e Amapá (1).

Além disso, segundo o alerta epidemiológico da Opas, “a transmissão autóctone (local) foi documentada em nove estados não amazônicos, alguns dos quais não haviam reportado casos anteriormente: Bahia (790); Espírito Santo (374); Santa Catarina (135); Minas Gerais e Mato Grosso (83 casos em cada localidade até o dia 16 de julho); Rio de Janeiro (58); Piauí (19); Pernambuco (9) e Maranhão (3).

Orientações
O alerta epidemiológico da Opas repassado aos municípios esclarece que “a possível transmissão vertical e as consequências para o feto ainda estão sendo investigadas. No entanto, as informações são compartilhadas com os estados membros a fim de se proporcionar ciência sobre a situação e, ao mesmo tempo, solicitar que estejam alertas para a ocorrência de eventos semelhantes em seus territórios”.

Nesse contexto, a Organização Pan-Americana de Saúde “solicita aos estados membros com transmissão comprovada de oropouche ou outros arbovirus que intensifiquem a vigilância em gestantes e notifiquem a ocorrência de aborto espontâneo ou óbito fetal associado à infecção e malformações congênitas em recém-nascidos que não possam ser explicadas por uma causa conhecida”.

Agna Menezes lembra que, na presença de uma clara suspeita de transmissão vertical ou possível afetação congênita causada por febre oropouche, sob orientação médica os profissionais de saúde devem providenciar a coleta de amostra de líquido amniótico para análise laboratorial. Em casos de neonatos com malformações possivelmente associadas à febre oropouche, é recomendada a coleta de amostras de soro no momento do parto, tanto da mãe como do recém-nascido. Já em casos de aborto espontâneo e natimorto, deve ser garantida a coleta de amostras de tecido fetal e de placenta para tentativa de detecção molecular.

A doença
A febre oropouche é transmitida pela picada do mosquito Culicoides paraenses ou Culex quinquefasciatus, mais conhecido como maruins, mosquitos pólvora, polvinha, mosquitos do mangue, maruim, meruim, ou meruí, que significa mosca pequena. As picadas podem causar desconforto, insônia e irritabilidade.

Trata-se de mosquitos que habitam locais úmidos. A proximidade do vetor com habitações humanas é fator de risco importante para a transmissão da febre oropouche. Para o controle dos vetores é recomendado o fortalecimento da vigilância entomológica; mapeamento das áreas urbanas, periurbanas e rurais com condições para o desenvolvimento de potenciais vetores; incentivo às boas práticas agrícolas para evitar o acúmulo de resíduos que funcionem como locais de reprodução e repouso de mosquitos; preenchimento ou drenagem de poças, lagoas e locais de alagamento; eliminação de vegetação rasteira ao redor de construções.

Além disso, é recomendada a proteção de residências com telas de malha fina nas portas e janelas; uso de roupas que cubram as pernas e braços; uso de repelentes e de mosquiteiros.

Não há vacinas ou medicamentos antivirais específicos para a febre oropouche. O tratamento indicado é, sobretudo, para amenizar os sintomas apresentados. A evolução dos casos geralmente é benigna, com resolução em aproximadamente uma semana. O paciente deve fazer repouso e tomar medicamentos para dor, febre ou para controlar o vômito. Os casos que evoluem com complicações, como quadros neurológicos ou de hemorragia, devem ser acompanhados por um médico e, algumas vezes, precisam de internação.

Por Pedro Ricardo / Foto: Divulgação Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - Inpa