Com as olimpíadas, a expectativa é a conquista de medalhas de ouro. Mas todo ano, durante o mês de agosto, o dourado significa mais que vitórias no esporte: é também o mês da luta - não do judô - mas pelo incentivo à amamentação – a cor dourada está relacionada ao padrão ouro de qualidade do leite materno.

Em 2024, o tema da campanha Agosto Dourado é “Amamentação: apoie em todas as situações”, tendo a Semana Mundial de Amamentação celebrada nos primeiros dias do mês. O objetivo é incentivar o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de vida do bebê, e sua continuidade até pelo menos os 2 anos de idade.

O leite materno não apenas alimenta, como também ajuda a evitar doenças e até a morte. É o que explica Victor dos Reis Santiago, referência técnica da Rede Materno Infantil, da Unidade Regional de Saúde (URS) de Patos de Minas. “O leite materno impede diarreia e infecção respiratória; diminui o risco de alergias; reduz a chance de obesidade, colesterol alto e diabetes na vida adulta; oferece melhor nutrição; e contribui para o desenvolvimento cognitivo”, esclarece Vitor.

Joyce da Silveira Souza Cordeiro, coordenadora da Atenção Primária da SMS de Visconde do Rio Branco, tem dois filhos, Davi Luiz, de oito anos; e Gustavo, de 1 ano e 5 meses

Todo esforço é importante quando se trata de amamentar
Com o primeiro filho não foi possível amamentar, mas isso não desmotivou a coordenadora da Atenção Primária de Visconde do Rio Branco, Joyce da Silveira Souza Cordeiro, a tentar com o segundo filho. A mãe conta que precisou retornar ao trabalho quando o primogênito tinha 3 meses, o que atrapalhou a continuidade do aleitamento materno exclusivo até os 6 meses do bebê. Mas na segunda gestação ela conseguiu formar uma forte rede de apoio com o marido, familiares e profissionais especializados. Com isso, ela pôde oferecer este alimento de excelência ao filho para além dos seis meses.

“Estou me sentindo realizada pela experiência de amamentar meu segundo filho. Tive 6 meses de licença maternidade e ainda acrescentei 1 mês de férias que estava pendente, o que me ajudou inclusive na introdução alimentar do Gustavo”, disse. “Pude organizar os intervalos que eu teria na jornada de trabalho para ele se acostumar a comer comida e também continuar no peito. O resultado é que hoje ele tem 1 ano e 5 meses, e ainda mama”, contou Joyce, relatando que o desmame está planejado para quando o filho completar 2 anos. O primeiro filho, Davi Luiz, hoje tem 8 anos. A família mora em Visconde do Rio Branco, na Zona da Mata.

A coordenadora de atenção à saúde, da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Juiz de Fora, Thaís Soranço, enfatiza a importância desse momento do ano para valorizar o aleitamento. “O Agosto Dourado e a Semana Mundial da Amamentação são um convite à ação, um momento para celebrar a amamentação e mobilizar esforços para garantir que todas as mulheres e seus bebês tenham acesso à amamentação livre, plena e duradoura”, diz.

“Quando entendi o valor da amamentação, resolvi enfrentar os desafios e persistir, e sem dúvida foi a minha melhor escolha”, define a farmacêutica Liliane Vieira. Para ela, foi uma fase de renúncia e doação. “É dolorido no início, tem diversos desafios e falta de apoio, noite com sono picado”, conta.

Papel do local de trabalho na amamentação
O apoio à lactante no ambiente de trabalho é essencial para que as mães consigam manter a amamentação exclusiva até, pelo menos, 6 meses de vida do bebê. Foi com esse suporte que a enfermeira Jordana Helena Almeida Arruda, conseguiu oferecer leite materno exclusivo até os 6 meses do filho Otávio, que hoje já tem 3 anos. Ela teve uma licença maternidade de quatro meses, e quando voltou ao trabalho pôde contar com horário de almoço estendido para poder continuar a amamentar.

Helena Almeida Arruda, enfermeira, mora em Ubá e trabalha na UNIFAGOC no cargo de supervisora de Simulação Realística. O filho se chama Otávio e tem 3 anos

“Encontrei colegas de trabalho que me acolheram e um ambiente propício para isso. Pude utilizar uma geladeira da empresa para reservar o leite que retirava, levando para casa no fim do expediente”, disse a enfermeira. “Nos horários em que eu não estava, minha cunhada e minha sogra davam meu leite para alimentá-lo. Então, até quase 2 anos, o Otávio só conheceu leite materno”, contou Jordana, acrescentando que outro benefício da amamentação é a economia financeira, já que a família não precisa gastar com fórmulas. “Meu esposo também me deu suporte, fazendo parte dessa rede de apoio. Acredito que por causa da amamentação o Otávio foi um bebê muito saudável e forte, e construímos um vínculo afetivo muito bonito”, revela a mãe.

Consultora em amamentação e enfermeira, Poliana Botelho ainda amamenta a filha de 1 ano e 7 meses. Onde trabalha, ela conta com sala privativa para amamentação, quando recebe a visita da filha. Ela também consegue fazer pausas para retirar e armazenar leite. Mas algumas das mães que ela atende não contam com o mesmo apoio.

“Um bebê que amamenta adoece menos, por isso a mãe acaba se ausentando menos do trabalho. A OMS (Organização Mundial da Saúde) preconiza a amamentação exclusiva até o sexto mês de idade, mas a grande maioria das mães têm licença de apenas quatro meses. O que as empresas têm feito para assegurar que essas mães continuem amamentando?!”, questiona Poliana.

Avanços e incentivos estaduais
Para incentivar e assegurar o direito às mulheres que amamentam durante a jornada profissional, Minas Gerais, em 2023, implementou a Lei nº 24.570, que permite a instalação de salas de apoio para que a mãe colete e armazene o leite produzido no local de trabalho. O espaço deve ser analisado por órgãos competentes para verificar se segue as diretrizes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Ministério da Saúde.

Segundo dados da Rede Global de Bancos de Leite Humano do Brasil (rBLH-BR), Minas Gerais possui, atualmente, 12 Bancos de Leite Humano (BLH) e 30 Postos de Coleta de Leite Humano (PCLH). O BLH mais recente entrou em funcionamento em abril do ano passado, no Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG). Com essa estrutura, a instituição, que há 30 anos mantinha um PCLH, passou a pasteurizar e a armazenar o leite. Veja a relação completa das 42 instituições com endereços e telefone aqui.

Infográfico dos Bancos e Postos de Coleta

 

Há 10 anos havia somente 8 mil doadoras em média por ano. Dados da Rede de Bancos de Leite Humano (rBLH-BR) indicam que em 2023 já são mais de 13 mil mulheres mineiras que participam anualmente deste ato de amor. Também em 2023, foram doados cerca de 16,7 mil litros de leite, e cerca de 12,4 mil bebês mineiros foram beneficiados. No primeiro semestre de 2024, 6.193 mulheres doaram leite para 6.627 bebês prematuros internados nas Unidades de Terapia Intensiva do Estado.
Gráfico de doadoras e receptores

Recursos e investimentos estaduais
A SES-MG repassou pouco mais de 1 milhão e cem mil reais, por meio de resolução do ano de 2019, destinados para o custeio de todos os BLH (Bancos de Leite Humano) e PCLH (Postos de Coleta de Leite Humano) cadastrados na rBLH-BR (Rede Global de Bancos de Leite Humano). No entanto, com o objetivo de aumentar as doações e garantir a humanização no atendimento das mães, Minas Gerais está investindo mais de R$ 1 milhão em 10 instituições de saúde para reforma e/ou construção, além de compra de equipamentos para ampliação de BLH e PCLH até o fim de 2024.

O Hospital Santa Casa de Misericórdia de Araguari, no Triângulo Mineiro, foi um dos estabelecimentos beneficiados com investimentos. Segundo a enfermeira Agnes Félix, há local reservado para a coleta e protocolos para a manutenção da qualidade. “As mães ao entrarem na sala, guardam seus pertences em armários para evitar contaminação”, explica. “Em seguida, vão para o ambiente de coleta, onde há três poltronas e três bombas elétricas para extração do leite”, diz a enfermeira. Além de contribuir para o aleitamento de recém-nascidos, prematuros e bebês de baixo peso, no espaço há uma televisão que orienta e inspira as mães para ampliar a rede de doadoras de leite humano.

Mobilização que dá resultado
Entre 2022 e 2023, as mobilizações na saúde pública para estimular o aleitamento materno aumentaram 8% segundo dados da Rede Estadual de Mobilização Social em Saúde da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG). Em 2022, a Mobilização Social promoveu, além do Agosto Dourado, 414 ações ao longo do ano relacionadas à saúde da mulher durante a gravidez, parto, pós-parto, e saúde de recém-nascidos e crianças até 2 anos. No ano de 2023, foram 447 trabalhos realizados para promover a saúde de grávidas, puérperas, mães e recém-nascidos. Instituída em março de 2017, pela SES-MG, a Rede Estadual de Mobilização Social tem o objetivo de promover a participação de toda a sociedade civil em ações de prevenção e promoção da saúde, por meio da junção de sentimentos, conhecimentos e responsabilidades.

No município de Belmiro Braga, na zona da mata, o Posto de Saúde da Família (PSF) do distrito de Porto das Flores preparou uma programação durante o mês de agosto, voltada para o incentivo à amamentação. Todas as segunda-feiras os pacientes terão uma palestra da equipe de saúde sobre o tema. “Vamos abordar a importância da amamentação com o envolvimento de toda a nossa equipe”, contou a enfermeira da unidade de saúde, Adriane Maria Paiva Osório.

Magui Paiva Osório Suzano, designer

Quem já contou com a ajuda dos profissionais de saúde em Porto das Flores foi a designer Magui Paiva Osório Suzano. A jovem mãe conta que durante a gravidez, vivia apreensiva por pensar que não conseguiria amamentar. “Chorei, imaginando como seria. Tira o sono e até a liberdade. Mas é a conexão mais incrível, é sentir o amor transbordando e o vínculo mais profundo”, comentou a designer.

Outros municípios também terão programações para mobilizar pacientes e a população em geral sobre a importância do aleitamento materno.

Por Jonathas Mendes (SRS Juiz de Fora), Keila Lima (SRS Ubá) e Vitória Caregnato (SRS Uberlândia - estagiária sob supervisão) - colaboração Lilian Cunha (SRS Uberlândia) / Fotos: Josi de Paula e Letícia Gomes