A Fundação Hemominas recebeu nesta sexta-feira, 14, a visita de uma missão angolana que veio ao Brasil conhecer a Política Brasileira de Atenção Integral às Pessoas com Doença Falciforme.

Crédito: Adair Gomez

Recepcionada pela presidente da Fundação, Júnia Cioffi, e pela diretora técnico-científica), doutora Fabiana Chagas, no Hemocentro de Belo Horizonte (HBH), a delegação participou de reuniões técnicas com os setores e servidores envolvidos na atenção ao paciente falciforme, inteirando-se dos processos e procedimentos desenvolvidos na instituição que atende a mais de sete mil pacientes cadastrados em seus ambulatórios. À tarde, a visita incluiu um hemotour pelas dependências do Hemocentro.

A visita faz parte do projeto Apoio à implementação e gestão de medidas para atenção integral às pessoas com doença falciforme (DF) em Angola, no qual a Hemominas foi incluída atendendo à solicitação do Ministério da Saúde. Para a presidente Júnia Cioffi, essa parceria é muito importante, pois denota a qualidade do trabalho que a Hemominas faz: “É uma oportunidade de mostrar o que e como fazemos, compartilhar nossa experiência que reflete uma política adequada de atendimento às pessoas com DF. Em Minas, temos fluxos de atendimento de referência e contrarreferência, serviço de Doação Voluntária de Sangue e um Programa de Triagem Neonatal (PTN-MG), organismos que se unem para viabilizar o melhor suporte possível às pessoas afetadas pela doença no estado”, considerou.

E mais: “Sempre que a gente encontra outros países e outros serviços, ambos aprendem, porque a gente troca experiências; passamos para eles o que fazemos, eles passam o que fazem e, com isso, há um crescimento do conhecimento na área. E o principal beneficiado com essa troca é o paciente”, concluiu Júnia Cioffi.

Por sua vez, o diretor geral do Instituto Hematológico Pediátrico Dra. Victória do Espírito Santo, Francisco Antônio José Domingos, salientou: “É relevante a cooperação entre Angola e Brasil e, estando na Hemominas, sabemos que Minas Gerais é referência no Brasil e quiçá, no mundo, em atenção integral às pessoas com DF. E nós, de Angola, nos regozijamos com essa parceria, que é muito importante. Sobretudo, agradecemos todo o apoio e recepção que tivemos”.

Também a representante da Direção Nacional de Saúde Pública e do Ministério da Saúde de Angola, Suzana da Conceição Simões Trindade, se manifestou: “Sou enfermeira do Programa Nacional de Prevenção e Tratamento das Doenças de Células Falciformes, um programa recém-implementado e que faz parte do grupo da afecção das doenças crônicas não transmissíveis. A nossa atuação é na área da prevenção e educação da população e, principalmente, vai consistir na elaboração da política nacional de atenção ao doente falciforme em nível primário.  A experiência na Hemominas tem sido brilhante, porque essa atenção toda tem um componente hemoterápico muito forte, que é base de todo atendimento ao paciente falciforme. Nós temos o Instituto Nacional do Sangue, cuja atuação é semelhante ou igual à da Hemominas, mas não temos o nível de organização que ela tem, e esta visita aqui nos permite ter essa visão e encontrar pontos de aprendizagem para melhorar nossa assistência hemoterápica ao doente falciforme e não só às outras doenças de outras patologias hemoterápicas que tenham necessidade desse serviço”.

Avaliação semelhante faz a diretora técnica do Instituto Nacional de Sangue, Eunice Cassinda Pereira Manico: “Tem sido uma experiência muito boa, fomos recebidos como irmãos, falamos a mesma língua  e saímos daqui sem palavras de agradecimento, pois essa visita superou nossas expectativas”, acentuou.

Para o assessor técnico do Ministério da Saúde /SAES/DAET/CGS, Tiago Novais, que está acompanhando a delegação de Angola em Brasília, Belo Horizonte e Salvador, o foco desta etapa é construir relações que possibilitem a Angola organizar uma política nacional de atenção às pessoas com DF no país, implantar a triagem neonatal, que não existe em Angola pela rede pública local:  “Por isso, a missão veio a Minas conhecer a experiência da UFMG, por meio do Nupad, que é referência nacional na triagem, e também o monitoramento e a assistência prestados pela Hemominas às pessoas com DF, conhecer toda a rede e as estratégias de atendimento, bem como as estratégias da Doação Voluntária de Sangue (DVS). A delegação de Angola vai ter acesso aos protocolos, documentos, manuais e a toda a parte técnica, além de conhecer o pessoal que compõe as equipes tanto da Hemominas quanto do Nupad, estreitando essa relação através de missões no Brasil e em Angola, além de web reuniões que serão feitas com esses grupos”, salientou.

Programação

Em Belo Horizonte, a delegação esteve também no Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico (Nupad/UFMG), órgão criado em 1993 com o objetivo de implantar o Programa de Triagem Neonatal de Minas Gerais (PTN-MG– UFMG), participando, ainda, no sábado,  de uma reunião com a presidente da Associação de Pessoas com Doença Falciforme e Talassemia de Belo Horizonte e Região Metropolitana (Dreminas) e da Federação Nacional da Associações de Pessoas com Doença Falciforme (Fenafal), Maria Zenó Soares da Silva . A missão permanece no Brasil até 19 de abril, com visitas e reuniões técnicas previstas em Brasília e Salvador.

Estiveram presentes à visita na Hemominas: o diretor geral do Instituto Hematológico Pediátrico Dra. Victória do Espírito Santo, Francisco Antônio José Domingos; a diretora técnica do Instituto Nacional de Sangue, Eunice Cassinda Pereira Manico; o representante do Gabinete de Intercâmbio do Ministério da Saúde de Angola, Miguel Viriato Jordão Miranda; a representante da Direção Nacional de Saúde Pública e do Ministério da Saúde de Angola, Suzana da Conceição Simões Trindade, e o assessor técnico do Ministério da Saúde do Brasil/SAES/DAET/CGS, Tiago Novais.

Doença Falciforme

Como referência SUS no atendimento a pacientes com hemoglobinopatias e coagulopatias no estado, a Hemominas é a responsável pelo acompanhamento hematológico,elaboração de tratamento, capacitação de profissionais de saúde e de ensino e pesquisa em doença falciforme. A Fundação atende mais de sete mil pacientes cadastrados com hemoglobinopatias, a maioria com doença falciforme.

A DF é genética e hereditária, caracterizada por uma alteração nos glóbulos vermelhos do sangue (hemácias). No Brasil, a anemia falciforme é doença de alta prevalência e importante problema de saúde pública. Estima-se que a prevalência do traço falciforme na população geral fique entre 2 e 8%, e cerca de 60.000 a 100.000 pacientes tenham a doença falciforme, porém, os dados estatísticos ainda estão subnotificados.

Em Minas, a incidência do traço falciforme é de 3,3%, e a da doença falciforme é de, aproximadamente, 1:1.400 recém-nascidos triados, segundo dados do Programa de Triagem Neonatal de Minas Gerais (PTN-MG), que implantou a triagem para hemoglobinopatias em março de 1998 - conhecido como teste do pezinho.

 

Por Assessoria Hemominas