Entre os meses de dezembro e março, os serviços de saúde e de vigilância das esferas estaduais e municipais, começam a ficar em alerta para os riscos de acidentes com animais peçonhentos. Isso porque, nesse período, que compreende o verão, observa-se um aumento das notificações desse agravo em relação aos demais meses do ano: cerca de 40%.

De acordo com os dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan Net), Minas Gerais registrou, entre os anos de 2017 e 2021, 15.074 acidentes com serpentes (11.531 do gênero Bothrops e Bothrocophias e 3.543 do gênero Crotalus).

Os acidentes com escorpiões estão no topo da lista de notificações de acidentes com animais peçonhentos tanto em Minas Gerais (com 172.967 casos), quanto na área de abrangência (32 municípios) da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Teófilo Otoni, com 11.261 casos registrados, considerando o mesmo período.

A enfermeira e referência técnica do setor de imunização da SRS Teófilo Otoni, Andrea Uzel, ressalta que no verão é preciso intensificar as ações de prevenção junto às populações mais expostas a esse tipo de acidente. Andrea explica também que em casos de acidentes dessa categoria, a pessoa deve procurar imediatamente a Unidade de Soroterapia mais próxima. “Em Teófilo Otoni, a unidade referência nesse tipo de atendimento é a Unidade de Pronto Atendimento (UPA)”, pontua.

Foto: SRS Teófilo Otoni

 

Referência

As Unidades de Soroterapia são referência para atendimento de acidentes com animais peçonhentos. “Devido à natureza heteróloga, a administração dos antivenenos pode causar reações adversas e por isso só devem ser administrados nessas unidades específicas, com condições de realizar atendimento em caso de emergência”, declara Andrea.

Na área de abrangência da SRS Teófilo Otoni são 14 Unidades de soroterapia distribuídas nos municípios de Águas Formosas, Ataleia, Caraí, Carlos Chagas, Itaipé, Itambacuri, Ladainha, Machacalis, Malacacheta, Nanuque, Novo Cruzeiro, Padre Paraíso, Poté e Teófilo Otoni. São 14 municípios ao todo.

Andrea também fala do fluxo de distribuição dos soros antivenenos para os municípios sob jurisdição da SRS Teófilo Otoni: “Cada uma das Unidades de Soroterapia possui um estoque estratégico que é reposto à medida que é utilizado”, explica. Devido à situação de desabastecimento, a equipe do setor de imunização da SRS permanece em plantão de sobreaviso aos finais de semana e feriados para atender as demandas de urgência e reposição dos estoques.

Outra questão também pontuada pela enfermeira diz respeito à importância das notificações serem feitas de forma adequada, para que se faça uma correta avaliação do cenário epidemiológico dos acidentes com animais peçonhentos e se estabeleça um planejamento estratégico de distribuição dos antivenenos.  “Desde 2014, o Ministério da Saúde (MS) recomenda o uso racional de soros antivenenos, estabelecendo protocolos clínicos e alocação destes imunobiológicos de forma estratégica em áreas de maior risco de acidentes”, pontua.

Foto: SRS Teófilo Otoni

 

Principais cuidados a serem tomados para evitar acidentes com animais peçonhentos terrestres:

• Utilize sempre equipamentos de proteção individual (EPI), como luvas de couro, botas de cano alto e perneira especialmente em locais ou situações de risco para acidentes com animais peçonhentos (ex.: florestas, matas, trilhas, áreas com acúmulo de lixo, atividades de lazer, de limpeza, serviços de jardinagem, entre outros);

• Olhe sempre com atenção o local de trabalho e os caminhos a percorrer;

• Não coloque as mãos em tocas ou buracos na terra, ocos de árvores, cupinzeiros, espaços e fendas em montes de lenha ou entre pedras. Caso seja necessário mexer nestes locais, use um pedaço de madeira, enxada ou foice;

• Não mexa em colmeias e vespeiros. Caso estejam em áreas de risco de acidente, entre em contato com a autoridade local competente para a remoção;

• Inspecione roupas, calçados, toalhas de banho e de rosto, roupas de cama, panos de chão e tapetes, antes de usá-los;

• Afaste camas e berços das paredes e evite pendurar roupas fora dos armários;

• Caso encontre um animal peçonhento, afaste-se com cuidado e evite assustá-lo ou tocá-lo, mesmo que pareça morto, e procure a autoridade de saúde local para orientações;

 

O destino dos animais peçonhentos que chegam à SRS Teófilo Otoni

Para auxiliar na produção de soros antivenenos, a SRS Teófilo Otoni estabeleceu uma parceria com a Fundação Ezequiel Dias (Funed). A SRS faz o recolhimento de várias espécies de animais peçonhentos e envia para a Fundação que, por sua vez, recebe esses animais para estudos, pesquisas e, principalmente, extração de venenos para a produção de soros antivenenos.

A referência técnica no manejo de animais peçonhentos da SRS Teófilo Otoni, Rogério Gonçalves, explica como é realizado esse trabalho. “Assim que o animal chega na Regional, ele é identificado, registrado e encaminhado para sala de triagem, permanecendo por uma semana isolado dos outros animais. Nessa etapa, é observado o comportamento biológico e a adaptação ao novo sistema de vida”, diz Rogério.

O animal aprovado é encaminhado para sala de criação intensiva (Cativeiro), permanecendo ali até o período que será transportado para a Funed. “Normalmente, o envio ocorre de três em três meses”, pontua Gonçalves.

Além de serem devidamente alimentados, os animais são monitorados com um rígido controle sanitário, alocados em caixas ventiladas e isoladas. Segundo Rogério, as espécies mais comuns de animais peçonhentos encontradas na região são: jararaca, jararacuçu, jararaca-caiçara (ou cobra-caiçara), jararaca-do-rabo branco, cascavel, coral, aranha-caranguejeira, aranha-de-grama, aranha-armadeira, escorpião-marrom e escorpião-amarelo.

Gonçalves explica que o ideal é capturar o animal e não matá-lo, pois a identificação da espécie auxilia no diagnóstico para o tratamento. Contudo, alerta que o recolhimento deve ocorrer de forma segura, sem causar um novo acidente, de preferência feito por pessoas devidamente treinadas.

 

Conteúdo produzido durante a campanha eleitoral e publicado após o período de vedação legal de divulgação.

Por Déborah Ramos Goecking