Montes Claros é a quarta cidade sede da macrorregião de saúde Norte a realizar a capacitação sobre a identificação taxonômica de triatomíneos, mais conhecidos como barbeiros transmissores da doença de Chagas, nos dias 6 e 7/12 no Laboratório de Saúde Única e Doenças Tropicais do Centro de Ciências Humanas da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes).

 FOTO: Pedro Ricardo/SRS de Montes Claros

Ao todo 26 secretarias municipais de saúde manifestaram interesse em encaminhar profissionais para participar do curso de atualização, uma vez que a doença de Chagas ainda é um problema de saúde pública que merece atenção especial no Norte de Minas. 

A tecnologista em saúde pública e curadora da coleção de vetores tripanosomatídeos da Fiocruz, Raquel Aparecida Ferreira explica que a realização da capacitação é resultado de projeto de pesquisa que está sendo implementado há dois anos, visando a reestruturação da vigilância da doença de Chagas com participação popular. O projeto tem o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), da Fiocruz Minas, da Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais (SES-MG), da Sociedade Brasileira de Parasitologia e de unidades regionais de saúde da SES-MG, entre elas a SRS de Montes Claros.

A capacitação de profissionais que atuam em laboratórios mantidos por serviços municipais de saúde é uma das ações adotadas pelo projeto, visando melhorar a eficiência na identificação de barbeiros e aqueles que estão infectados e são potenciais transmissores da doença de Chagas.

“Estamos trabalhando na capacitação de profissionais atuantes em 123 municípios integrantes das áreas de atuação das unidades regionais de saúde de Januária, Pedra Azul, Unaí e Montes Claros. Para 2023 temos previsão de capacitar profissionais de municípios jurisdicionados à Gerência Regional de Saúde de Pirapora. Essas regiões apresentam alto risco de re-infestação de barbeiros em residências e, por isso, a identificação de vetores constitui estratégia importante”, explica Raquel Ferreira.

Com a experiência adquirida na coordenação do projeto que está sendo implementado com a participação da técnica, Valéria Carla Amaral, a pesquisadora avalia que “muitos profissionais ainda têm dificuldades de identificar vetores transmissores da doença de Chagas, além do fato de ocorrer constante rotatividade de servidores nos serviços de saúde dos municípios. Por isso a necessidade de realização de novas capacitações e atualização dos profissionais que já atuam na área há mais tempo”.

A coordenadora de vigilância em saúde da SRS de Montes Claros, Agna Soares da Silva Menezes entende que “o fortalecimento de parcerias entre a Secretaria de Estado da Saúde com a Fiocruz Minas se constitui iniciativa de fundamental importância para o incremento do Programa de Controle da Doença de Chagas no Norte de Minas, visto se tratar de um problema de saúde que ainda causa importante impacto social e econômico na região”.

Por sua vez, a bióloga e referência técnica do Laboratório Macrorregional do Norte de Minas, Patrícia Brito reforça que “o curso ministrado pela Fiocruz traz novos conhecimentos técnicos para os profissionais de saúde da região, sobretudo para os laboratoristas que trabalham diretamente na implementação do Programa de Controle da Doença de Chagas”.

INCIDÊNCIA

A professora de parasitologia e de cursos de pós-graduação da Unimontes, Thallita Maria Vieira também reforça que o trabalho conjunto de instituições com vistas à capacitação de profissionais visando intensificar as ações de controle da doença de Chagas é importante para o Norte de Minas, levando em conta que a ocorrência de barbeiros nas zonas urbana e rural é um problema que persiste e preocupa.

Nos últimos quatro anos, com a participação da mestranda, Thainara da Silva Gonçalves, estamos desenvolvendo dois trabalhos de mestrado com a participação da Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros e com o Centro de Controle de Zoonoses, da Secretaria Municipal de Saúde. Estamos pesquisando a ocorrência e distribuição espacial de triatomíneos no município. 

“Entre 2012 e 2019, a população residente na área urbana de Montes Claros entregou 277 barbeiros, dos quais 14 estavam infectados e poderiam transmitir Chagas. Outros 1 mil 404 triatomíneos foram encontrados na zona rural e apenas um estava infectado. Precisamos intensificar as pesquisas quanto ao fato da existência de grande número de barbeiros infectados encontrados na zona urbana pois, até então, o foco de atuação sempre foi centrado na zona rural”, pontua Thallita Vieira. 

 

 

Por Pedro Ricardo

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