Com o objetivo de formar monitores, que posteriormente poderão atuar como multiplicadores de conhecimentos no Norte de Minas, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) está realizando nesta semana, em Montes Claros, encontro de capacitação de médicos, enfermeiros e fisioterapeutas voltado para a prevenção de incapacidades provocadas pela hanseníase. As aulas teóricas começaram nesta segunda-feira (08/04), no auditório da Secretaria Municipal de Saúde de Montes Claros. As aulas práticas acontecerão nesta quarta e quinta-feira, 10 e 11/04, na Policlínica do bairro Alto São João.

Pedro: Pedro Ricardo

A capacitação envolve profissionais de saúde atuantes nos municípios de Montes Claros, Jaíba, Januária, Capitão Enéas e Ninheira. Na abertura do curso, a referência técnica da coordenadoria estadual de Dermatologia da SES-MG, Adauto César Pugedo, apresentou os dados epidemiológicos da hanseníase em Minas Gerais. Segundo ele, “apesar de nos últimos anos ter ocorrido redução dos casos notificados de hanseníase no Estado, a situação atual pode não estar mostrando a realidade do que deve estar acontecendo. Quando avaliados, os indicadores apontam que o diagnóstico tardio da doença evidencia que existe um maior número de pacientes a serem tratados”, disse.

Adauto Pugedo explica que, em 2017, foram notificados 1.095 casos de hanseníase em Minas Gerais, número este que, preliminarmente, caiu para 1.029 em 2018. “O percentual de casos de hanseníase multibacilares aponta que o diagnóstico tardio da doença alcança percentual de 70% em Minas Gerais”, salienta a referência técnica.

Entre os 53 municípios que compõem a área de atuação da Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros, dados da SES-MG apontam que em 2017 foram notificados 52 casos de hanseníase e, no ano passado (2018), 54.

Apesar do Norte de Minas não estar entre as regiões que possuem maior número de notificações anuais de hanseníase, Adauto Pugedo entende que a capacitação de monitores para atuar como multiplicadores para outros profissionais de saúde da região é importante, visando conter o avanço da doença.

“A parceria entre a Secretaria de Estado de Saúde, Ministério da Saúde e municípios é fundamental para que seja reduzido o diagnóstico tardio da hanseníase, possibilitando que os pacientes tenham acesso, o mais rápido possível, ao tratamento gratuito pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e, com isso, sejam evitadas as deformidades causadas pela doença”, concluiu.

Por sua vez, Eliane Duarte, monitora de capacitações em hanseníase para o Ministério da Saúde e SES-MG, salienta que “o potencial incapacitante da doença está relacionado a deformidades físicas. A prevenção das incapacidades está relacionada a um conjunto de medidas que visam evitar a ocorrência de danos físicos, emocionais, espirituais e sócio-econômicos”. Já no caso de danos já existentes, a monitora salienta que “as medidas a serem adotadas pelos profissionais que atuam nos serviços de saúde devem ter como foco evitar as complicações, considerando a capacidade e a necessidade de cada pessoa, adaptando-a à sua realidade”.

Porém, Eliane Duarte reforçou que o diagnóstico precoce da hanseníase pelos serviços de saúde é fundamental no sentido de evitar que os pacientes venham a ter deformidades. “Além disso, o tratamento regular dos pacientes evita a resistência medicamentosa, além do apoio emocional via assistência psicológica e social, é fundamental para evitar que o paciente abandone o tratamento”, lembrou.

Eliane Duarte sugere que os profissionais de saúde envolvidos no atendimento de pacientes acometidos por hanseníase estimulem a criação de grupos voltados para prestar assistência aos pacientes no Norte de Minas. “A integração social e familiar; o desenvolvimento de estudos; o repasse de orientações sobre autocuidados e implementação de ações de educação em saúde são fundamentais para que os pacientes se tornem mais seguros e evitem abandonar o tratamento”, conclui a monitora.

Tem cura

Ainda cercada por preconceitos, a hanseníase é uma doença de fácil diagnóstico e tem cura. O tratamento gratuito é feito por meio do SUS.

Caracterizada por manchas dormentes e insensíveis à dor, ao tato, ao quente e ao frio, a hanseníase é uma doença infecciosa crônica causada pela bactéria Micobacterium leprae que afeta a pele e nervos periféricos. Se não for tratada precocemente, pode causar deformidades.

Em geral os primeiros sintomas da doença surgem como manchas brancas, vermelhas ou marrons em qualquer parte do corpo, somadas à alteração na sensibilidade do indivíduo à dor, ao tato e à percepção do quente e do frio. Áreas dormentes também podem aparecer especialmente nas extremidades, como mãos, pernas, córneas, além de caroços, nódulos e entupimento nasal.

O diagnóstico da doença é feito nas unidades básicas de saúde (UBS), onde a equipe de saúde poderá examinar o paciente e já iniciar o tratamento. Vale ressaltar que, imediatamente após iniciar o tratamento, que dura entre seis a doze meses, o paciente já não transmite mais a doença para as pessoas com quem convive. Essa situação contempla, inclusive, os pacientes da forma contagiosa, que correspondem a cerca de 30% do total de casos diagnosticados.

Nos últimos oito anos, Minas Gerais notifica cerca de 1.300 novos casos a cada ano. A situação da doença no Estado apresenta-se de forma bastante heterogênea. Os casos estão distribuídos por todo o Estado, com maior atenção nas divisas de Minas Gerais com o Espírito Santo, Bahia e Goiás. 

Por Pedro Ricardo