O governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, presidiu, nessa sexta-feira (21/04), em Ouro Preto, a solenidade da entrega da Medalha da Inconfidência. A comenda – maior honraria concedida pelo Estado de Minas Gerais, foi entregue a 170 personalidades que contribuíram para o desenvolvimento do Estado e do Brasil. Entre os agraciados estavam o secretário-adjunto de Estado de Saúde, Nalton Sebastião Moreira da Cruz, e a subsecretária de Políticas e Ações de Saúde, Maria Turci. Clique aqui e confira a nossa galeria de imagens.

"Essa medalha é um reconhecimento por todo o trabalho que tem sido realizado na Secretaria de Estado de Saúde, ao lado do secretário Sávio Souza Cruz, das trabalhadoras e dos trabalhadores da saúde pública do Estado de Minas Gerais. Um reconhecimento fundamental, em especial, neste momento, em que o Sistema Único de Saúde (SUS) atravessa uma crise grave no país e que precisa ser fortalecido diariamente. Meu agradecimento ao governador Fernando Pimentel pela lembrança", enfatizou Nalton Moreira.

Crédito: Manoel Marques / Imprensa MG.

"Estamos vivendo um período muito difícil para o SUS no nosso país. Então vejo a concessão dessa medalha como a valorização da nossa luta pela defesa da saúde publica no nosso estado, da defesa do SUS em seus princípios, nunca tão ameaçado. Sinto-me honrada pelo reconhecimento e compartilho com todas as companheiras e todos os companheiros que dividiram comigo essa jornada", agradeceu Maria Turci.

Ações espetaculosas

A defesa da luta incessante pela liberdade, pela justiça social, a democracia e a igualdade de direitos marcaram o discurso do governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel. O governador destacou que o conflito entre o ódio e a tolerância, o preconceito e a solidariedade, o absurdo e a lucidez “parece hoje enredar o mundo e o nosso país numa discórdia sem fim”.

“Basta olhar em torno, no ambiente próximo ou no mais distante para ver, por toda parte, sinais de opressão e violência, radicalismo e confronto. Desrespeito aos direitos individuais, às garantias legalmente consolidadas, aos mais básicos preceitos da convivência humana, tudo isso vai se tornando corriqueiro nos tempos que vivemos. Falo do angustiante drama dos refugiados de guerra, da migração forçada de milhares de seres humanos afetados pela crise econômica, do desemprego cruel, da miséria e da fome injustificáveis num mundo capaz de produzir abundância e distribuir escassez. Mas falo também das perseguições políticas, religiosas, ou raciais, muitas delas respaldadas por processos claramente parciais, onde a violência e o desrespeito se ocultam atrás de ações espetaculosas, nas quais a intenção de justiçamento e não de justiça fica cada dia mais evidente”.

Segundo o governador, podemos encontrar na personalidade de Nelson Mandela, uma referência que, trazendo o drama existencial de Tiradentes para o nosso tempo, sintetiza a saga daqueles que lutam pela dignidade humana e se sacrificam pela liberdade e pela paz.

“É em meio às brumas do presente que devemos buscar as luzes do futuro. O País dos Inconfidentes não escapa aos ventos devastadores da crise que abre o milênio. A lição de Mandela, como a do grande Alferes, vem do sofrimento desumano a ele imposto. A vitória ainda em vida conquistada pelo líder africano, ao término da longa jornada de perseguição, é um privilégio que o nosso mártir Tiradentes não alcançou. Mas de ambos recebemos a palavra de fé e perseverança em pleno martírio. O exemplo de firmeza e cautela, altivez e resistência”, ressaltou. 

Crédito: Manoel Marques / Imprensa MG.

O tempo, agora, segundo Pimentel, pede reconstrução. “Aspiramos a liberdade e almejamos a justiça, hoje solapadas por uma teia de acusações que lembram as alcovas da Conjuração Mineira. Naquele episódio fundante da nossa nacionalidade, Tiradentes foi protagonista involuntário de um espetáculo e não de um processo justo. Foi protagonista da busca ardilosa de uma expiação calculada, feita mais para encobrir do que para revelar, feita mais para distrair a razão do que para iluminá-la, feita, enfim, para condenar previamente e não para buscar a verdade”.

Justiça

Pimentel relembrou a Inconfidência Mineira para exaltar a importância de um “sistema jurídico perfeito”, para evitar danos irreparáveis. “As acusações, quando a serviço de estratagemas, morrem. Os acusadores morrem. Mas a injustiça contra as vítimas da acusação infundada, essa é incontornável e irreparável. Por isso, o devido processo penal não pode ser atropelado pela ansiedade do condenar, de execrar, de justiçar. Um sistema jurídico perfeito não é aquele que se alimenta do estardalhaço. É aquele que silenciosamente não teme encarar os fatos e buscar as provas – e não apenas as versões – e constrói as decisões com serenidade e isenção. Quando uma sociedade se rende aos clamores de vingança, ela se rebaixa, deixa de ser republicana e democrática e retrocede ao estágio mais primitivo da trajetória humana. Urge pois defender a democracia e os valores republicanos. Democracia e república que se fundam na igualdade de direitos, na transparência e na supressão do ódio. Que têm a tolerância e a convivência com as diferenças como princípios éticos e prática política, tal como pregou Mandela”, defendeu.

Por fim, o governador ressaltou o trabalho e o compromisso de Minas Gerais com a paz e a fraternidade, manifestado no equilíbrio entre os Poderes do Estado e na convergência de vontades em favor da concórdia e do combate aos efeitos da crise.

“Sem isso, não temos como ir adiante na luta pelos direitos da cidadã e do cidadão atingidos pela recessão econômica, pelas tensões sociais e pela fragilização do sistema político. Unimos as forças vitais dos mineiros e das mineiras na direção do soerguimento do nosso Estado e do nosso País. Aqui estão os Poderes Legislativo, Judiciário e Executivo, ciosos de sua autonomia e de seus deveres, mas irmanados na busca do bem comum. Se a crise parece envolver tudo, devemos encontrar, no meio dela, a força necessária para combater a inércia e o desencanto, as frustrações e desesperanças. Há governos que dizem fazer muito, porém fazem para poucos. Hoje, em Minas Gerais, o que fazemos busca beneficiar sempre o maior contingente de mineiros e mineiras. Sabemos que as soluções exigem adesão visceral aos princípios basilares da justiça, da democracia, da igualdade e da paz. A prática da tolerância anima o nosso espírito e promove a comunhão da diversidade”, finalizou.

Homenagens às mulheres

Para a atriz Inês Peixoto, do Grupo Galpão, que recebeu a Medalha de Honra, a homenagem teve um significado especial. “Eu me sinto honrada como mulher, como atriz e como representante das artes cênicas de Minas Gerais. Eu acho muito importante esse reconhecimento porque quanto a gente faz um trabalho como o meu, eu não estou aqui sozinha eu estou representando várias pessoas. Para nós mulheres, nesse momento que a gente está vivendo é muito importante sermos lembradas. Ser lembrada como mulher, atriz”, afirmou.

Para a vereadora de Belo Horizonte, Áurea Carolina de Freitas e Silva, agraciada com a Medalha da Inconfidência, a ideia é que mais mulheres possam ter sua atuação reconhecida, independentemente do seu campo de atuação.

“Minha atuação hoje nesse evento é de grande importância, pois ela vem da representatividade das mulheres negras, de luta na política. Nelson Mandela é a grande referência, como enfrentamento ao racismo e todas as formas de resistência contra a opressão. O reconhecimento hoje, aqui, é a afirmação dessa postura de compromisso com a democracia”.

Para a cantora Fernanda Takai, é importante a valorização feminina em todos os setores, principalmente junto à arte e a cultura do Estado. “Fazer parte do panorama da cultura de Minas Gerais e ser lembrada com essa medalha é um sentimento muito bom de realização. Através da arte a gente encontra muita saídas paras as coisas que estão sem caminho. Além do entretenimento, das músicas e das letras a gente também trabalha com a questão da cidadania de postura social. E nessa medalha com certeza nos lembramos disso, das nossas atitudes como cidadã”, reforçou.

De acordo com a Constituição do Estado, no 21 de abril, a capital de Minas Gerais é transferida simbolicamente para Ouro Preto, que foi a capital do Estado de 1823 até 1897. O governador Fernando Pimentel foi recebido com honras militares. Em seguida, pôs flores no monumento a Tiradentes e recebeu o fogo simbólico, acendendo a Pira da Liberdade. Houve também salva de 21 tiros. O hino nacional do Brasil foi executado pela Orquestra Sinfônica da Polícia Militar de Minas Gerais

Mandela

O maior homenageado da Medalha da Inconfidência 2017 com o Grande Colar foi, in memoriam, o ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela. Representado pelo embaixador da África do Sul no Brasil, Ntshikiwane Joseph Mashimbye, ele foi lembrado como exemplo da “encarnação do poder do amor e da esperança” para a humanidade. Em discurso durante a solenidade, Mashimbye se disse honrado em receber a honraria em nome de um líder tão aclamado em seu país.

Mandela foi um ativista político que se destacou pela capacidade de diálogo, pelo poder de agregação e luta incessante pela justiça social, a democracia e a igualdade de direitos. Símbolo da luta contra o apartheid, regime que segregava os negros, a quem não era reconhecida a maioria dos direitos políticos, econômicos e sociais, na África do Sul, ficou preso durante 27 anos. Sua libertação foi objeto de intensa campanha internacional, tornando-se, em 1994, o primeiro presidente negro da história de seu país. Foi Prêmio Nobel da Paz, em 1993.

Em 2010, a Organização das Nações Unidas (ONU) tornou o 18 de julho (data de seu nascimento em 1918) Dia Internacional Nelson Mandela, como forma de valorizar em todo o mundo a luta pela liberdade, pela justiça e pela democracia. Morreu em dezembro de 2013.

 

Por Agência Minas / Romyna Lanza