Nesta terça-feira, 06 de dezembro, é celebrado o Dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo fim da Violência contra as Mulheres. A data foi criada pela Lei nº 11.489/2007 e também é conhecida aqui no Brasil como “Campanha do Laço Branco” ou #ElesPorElas (HeForShe). O dia remete à tragédia que ocorreu em 1989, em Montreal, no Canadá, quando um homem entrou armado em uma sala de aula da Escola Politécnica, mandou que somente os homens saíssem e matou 14 mulheres e em seguida saiu atirando pelos corredores e outras dependências da escola, gritando “Eu odeio as feministas”. Ele também feriu outras 14 pessoas, das quais 10 eram mulheres e em seguida suicidou-se. Com ele, foi encontrada uma carta que continha uma lista com nomes de 19 feministas canadenses que ele também desejava matar e na qual ele explicitava a motivação de suas ações: “mandar de volta ao Pai as feministas que arruinaram a sua vida”.

Arte: Maycon Portugal

Este crime, conhecido como o “Massacre de Montreal”, mobilizou a opinião pública e provocou um forte debate sobre as desigualdades entre homens e mulheres e a violência gerada por esse desequilíbrio social. Após essa tragédia, um grupo de homens do Canadá decidiu se organizar para dizer que existem homens que agridem as mulheres, mas há também aqueles que repudiam essa atitude. Eles elegeram o laço branco como símbolo e adotaram como lema: jamais cometer um ato violento contra as mulheres e não fechar os olhos frente a essa violência. Assim lançaram a primeira Campanha do Laço Branco (White Ribbon Campaign): homens pelo fim da violência contra a mulher.

Violências e saúde da mulher

Vivemos em uma sociedade com uma base cultural marcada pela lógica patriarcal, em que os homens contam com privilégios sociais que potencializam a crença de que há uma suposta superioridade masculina em detrimento às mulheres, configurando o machismo e maior expressão do machismo é a violência contra a mulher. Conforme a Coordenadora de Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissíveis da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), Janaína Passos de Paula, “Em Minas Gerais, 61% dos casos de violência contra a mulher, notificados nos anos de 2015 a 2016, tiveram os homens como prováveis autores da violência. Dessa forma, as ações de prevenção à violência e promoção da cultura da paz devem envolver a população masculina no debate desse tema. Devemos pensar não somente na a punição, mas também com o rompimento do ciclo de violência, em ações de prevenção e recuperação”, ressalta.

Segundo a referência Técnica da Coordenação da Saúde da Mulher, Soane Pereira de Souza, qualquer tipo de violência (física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral) acarreta em danos físicos e/ou psicológicos para as mulheres. “Segundo estudos, o impacto da violência de gênero sobre a saúde física pode ser imediato e de longo prazo. Mesmo quando recorrem a um tratamento, os problemas de saúde podem nunca ser atribuídos à violência. As sobreviventes de atos violentos muitas vezes demonstram comportamentos negativos para a saúde, incluindo uso de álcool e outras drogas. Dentre os problemas crônicos de saúde resultantes do abuso estão as dores crônicas (dores de cabeça e nas costas); problemas e sintomas neurológicos, como desmaios, convulsões; distúrbios gastrointestinais e problemas cardíacos”, explica

A psicóloga da Coordenação de Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissíveis, Adriana Aparecida Faria Neves Martins, também complementa ressaltando que as mulheres agredidas frequentemente vivem com medo e apresentam depressão, ansiedade e até mesmo a síndrome do estresse pós-traumático. “Um estudo na América do Norte demonstrou que as mulheres agredidas têm três vezes mais probabilidades de apresentarem a síndrome do estresse pós-traumático do que as que não sofreram abusos”, pontuou.

» Clique aqui e confira entrevista completa com a Coordenadora de Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissíveis da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), Janaína Passos de Paula, no Blog da Saúde MG

A partir do momento que os homens se conscientizam que podem e devem contribuir para o fim da violência contra as mulheres, ocorre uma maior circulação da mensagem nos meios sociais e como consequência há o reconhecimento e identificação tanto de homens agressores, quanto de mulheres que são vítimas. Para os homens, não basta apenas não praticar as violências, mas também é essencial repensar posturas, comportamentos e confrontar outros homens que de alguma maneira pratiquem a violência ou tenham atitudes machistas. Em Belo Horizonte, por exemplo, há uma ONG voltada para a recuperação e desenvolvimento de homens autores de violência de gênero e também para mulheres que vivem situação de violência, o Instituto ALBAM. Já as mulheres que são vítimas de violência precisam denunciar e buscar ajuda; clique aqui e saiba mais.

Por Vívian Campos