A Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais (SES-MG), em parceria com a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), iniciou nesta terça-feira, 19/03, a realização de encontro para atualização da vigilância, diagnóstico e tratamento das leishmanioses visceral e tegumentar. A iniciativa envolve médicos, enfermeiros e bioquímicos das secretarias de saúde de 53 municípios do Norte de Minas, com o objetivo de viabilizar a implantação da técnica de tratamento intralesional de pacientes.

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Trata-se de metodologia inovadora que está sendo adotada pelo Ministério da Saúde e que consiste na injeção, em menores doses, da mesma medicação (antimoniato de meglumina, conhecido como glucantime), de forma subcutânea diretamente nas feridas. O novo tratamento resulta em maior segurança para a saúde do paciente, pois o antimônio pentavalente pode ter efeitos tóxicos acumulativos. Já o tratamento intralesional apresenta a mesma eficácia, porém utilizando um número menor de doses de glucantime.

Segundo o pesquisador Armando Schubach, da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), “nos trabalhos já realizados, a eficácia do tratamento intralesional das leishmanioses tem se revelado superior a 80%. Isso não é pouco, uma vez que a literatura brasileira ressalta que a média nacional para o tratamento convencional fica em torno de 70%. O grande diferencial aparece mesmo em relação aos efeitos adversos. Enquanto que na alta dosagem o paciente sente sintomas mais agressivos, chegando a interromper o tratamento, por meio do procedimento intralesional isso fica reduzido”, explica o pesquisador.

Na abertura do encontro realizado no auditório do Hospital Universitário Clemente de Faria, a coordenadora de zoonoses da SES-MG, Andrea Oliveira Dias Temponi apresentou o Programa de Vigilância da Leishmaniose Tegumentar em Minas Gerais que tem, entre outros objetivos, foco na redução da morbidade, deformidades e óbitos de pacientes. Além disso, busca-se viabilizar a implantação do diagnóstico parasitológico direto da leishmaniose, por meio da realização de exames de escorificação e biopsia nos laboratórios macrorregionais da SES-MG.

“A iniciativa da Regional de Saúde de Montes Claros de realizar encontro para atualização de informações sobre as leishmanioses tegumentar e visceral, reunindo profissionais de saúde de diversos segmentos se constitui trabalho importante no sentido de unir esforços com os municípios para a redução das notificações da doença. O Norte de Minas já conta com um centro de referência em leishmaniose, sediado em Januária, mas para que as ações implementadas pelo Governo do Estado cheguem efetivamente na população é preciso que haja maior interação entre os diversos profissionais de saúde que atuam nos municípios, desde as unidades de saúde, vigilância epidemiológica, assistência farmacêutica e os hospitais”, destacou Andrea Temponi.

A referência técnica da SES-MG explicou que, por ano, são notificados cerca de 20 mil casos de leishmaniose no Brasil, número este que está reduzindo anualmente. Porém, por ter atividade agropecuária e ecoturismo movimentado, Minas Gerais é um dos estados com maior número de ocorrência de leishmaniose no país, totalizando média de duas mil notificações anuais. No Norte de Minas, 20 municípios respondem por 88,22% dos casos notificados da doença na região.

Eficácia

A referência técnica da Regional de Saúde de Montes Claros, Arlete Lisboa Gonçalves reforça que “o tratamento intralesional com aplicação de glucantime diretamente nas lesões provocadas pela leishmaniose tegumentar tem se mostrado mais eficaz, pois reduz o tempo de cicatrização com uma média de três aplicações, enquanto que o tratamento convencional, com aplicação de 40 doses de medicamentos, dura cerca de 20 dias”.

“Além de ser um tratamento menos sofrido para o paciente a aplicação intralesional possibilita a redução de despesas com a aquisição de medicamentos, além de diminuir o tempo de reabilitação das pessoas acometidas por leishmaniose tegumentar”, ressalta Arlete Lisboa.

Após apresentação do Programa de Vigilância da Leishmaniose Tegumentar em Minas Gerais, o médico Luciano Freitas, da Unimontes, proferiu palestra sobre diagnósticos laboratoriais com ênfase na técnica de realização de biopsia. Na parte da tarde, o médico Sílvio Guimarães Carvalho, também da Unimontes, ministrou palestra sobre o diagnóstico laboratorial da leishmaniose visceral; o tratamento, medicamentos disponíveis e os esquemas terapêuticos para assistência às pessoas co- infectadas por leishmaniose visceral e HIV/Aids.

Diagnóstico laboratorial

Nesta quarta e quinta-feira, 20 e 21/3, a capacitação terá continuidade com a participação de bioquímicos de 18 municípios que, entre 2013 e 2018, apresentaram maior número de casos notificados de leishmaniose tegumentar e visceral no Norte de Minas.

Com aulas práticas ministradas no Laboratório Macrorregional da SES-MG, sob a coordenação do Núcleo de Vigilância Epidemiológica, Ambiental e de Saúde do Trabalhador da Regional de Saúde de Montes Claros, os profissionais participarão de capacitação sobre o diagnóstico laboratorial de leishmaniose tegumentar. O curso, com duração de 16 horas, será orientado por bioquímicos da SES-MG atuantes nas regionais de saúde de Montes Claros, Januária e Pirapora.

Participam do treinamento profissionais das secretarias de saúde de Berizal, Bocaiúva, Capitão Enéas, Curral de Dentro, Espinosa, Francisco Sá, Fruta de Leite, Grão Mogol, Indaiabira, Janaúba, Joaquim Felício, Itacambira, Porteirinha, Rio Pardo de Minas, Rubelita, Salinas, Santo Antônio do Retiro, São João da Lagoa, São João do Pacuí, São João do Paraíso e Taiobeiras.

A doença

A leishmaniose é uma doença infecciosa, porém não contagiosa, causada por parasitas do gênero Leishmania. Os parasitas vivem e se multiplicam no interior das células que fazem parte do sistema de defesa das pessoas, chamadas macrófagos.

Trata-se de uma doença que acomete animais silvestres e, eventualmente, o homem. É uma doença de evolução longa, podendo durar alguns meses ou até ultrapassar o período de um ano. Há dois tipos de leishmaniose: tegumentar ou cutânea; visceral ou calazar.

A leishmaniose tegumentar se caracteriza por feridas na pele que se localizam com maior frequência nas partes descobertas do corpo. Tardiamente, podem surgir feridas nas mucosas do nariz, da boca e da garganta. Essa forma de leishmaniose é conhecida como "ferida brava".

Já a leishmaniose visceral é uma doença sistêmica, pois acomete vários órgãos internos, principalmente o fígado, o baço e a medula óssea. Esse tipo de leishmaniose acomete essencialmente crianças de até dez anos. Após esta idade a doença se torna menos frequente. Ela é causada pelo protozário Leishmania chagasi e seus principais sintomas são: emagrecimento; febre baixa; aumento do baço e fígado.

A leishmaniose é transmitida por insetos hematófagos (que se alimentam de sangue) conhecidos como flebótomos ou flebotomíneos. Seus nomes variam de acordo com a localidade, sendo os mais comuns: mosquito palha; tatuquira; birigüi; cangalinha; asa branca; asa dura e palhinha.

As fontes de infecção das leishmanioses são, principalmente, os animais silvestres e os insetos flebotomíneos que abrigam o parasita em seu tubo digestivo, porém o hospedeiro também pode ser o cão doméstico.

Na leishmaniose cutânea os animais silvestres que atuam como reservatórios são os roedores, tamanduás e preguiças. Na leishmaniose visceral a principal fonte de infecção é a raposa do campo.

Sintomas

No caso da leishmaniose tegumentar, duas a três semanas após a picada pelo flebótomo aparece uma pequena pápula (elevação da pele) avermelhada que vai aumentando de tamanho até formar uma ferida recoberta por crosta ou secreção purulenta. A doença também pode se manifestar como lesões inflamatórias nas mucosas do nariz ou da boca.

Já os principais sinais da leishmaniose visceral são: febre irregular, prolongada; anemia; indisposição; palidez da pele e ou das mucosas; falta de apetite; perda de peso; inchaço do abdômen devido ao aumento do fígado e do baço.

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