“O que podemos fazer para reduzir os casos de suicídios em Belo Horizonte e região? Como devemos tratar estes casos?”. Foi a partir dessas reflexões que o Núcleo de Vigilância Epidemiológica, Saúde do Trabalhador e Vigilância Ambiental da Regional de Saúde de Belo Horizonte realizou a palestra “Suicídio e Violência em Saúde do Trabalhador” nesta segunda-feira (10/12).

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), afirmou a psicóloga do Hospital Pronto-Socorro João XXIII (FHEMIG), Luciene Rocha, 804 mil pessoas se suicidaram em 2012, o equivalente a 2200 mortes por dia, que é uma a cada 40 segundos no mundo. Para cada suicídio, estima-se que houve de 10 a 20 tentativas. A psicóloga ainda estimou que, até 2020, espera-se o aumento de 50% na incidência por morte por suicídio.

“O suicídio é complexo, não tem uma causa isolada. Ele é multifatorial e resulta de uma complexa interação de fatores biológicos, genéticos, psicológicos, sociais, culturais e ambientais. É um problema de saúde pública que requer nossa atenção e infelizmente a prevenção não é uma tarefa fácil e carece da atuação de diversos setores da sociedade”, afirmou Luciene Rocha.

Crédito: Priscilla Fujiwara.

Segundo a psicóloga, falar sobre o assunto é muito importante, é mais uma forma de prevenção e não pode ser tratado como tabu. “O estigma em relação ao tema do suicídio impede a procura de ajuda. Da mesma forma, sabe-se que falar de forma responsável sobre o fenômeno do suicídio opera muito mais como um fator de prevenção do que como fator de risco”.

Veja também no Blog da Saúde MG:
- Psicóloga do Hospital João XXII fala sobre suicídio, laços sociais e rede de apoio

Ao identificar o aumento do número de casos nos últimos anos, a referência técnica do núcleo de Vigilância Epidemiológica da Regional, Geralda Célia Barbosa, apontou que as tentativas de suicídios são crescentes em várias faixas etárias. “Percebemos que os profissionais de saúde não estão preparados e é uma situação complexa que não envolve só o setor saúde. Os profissionais precisam estar sensíveis. E por outro lado devem também ser capacitado para assistirem às pessoas que tentaram suicídio para que evitem novas tentativas. Por isso convidamos as psicólogas do Hospital João XXIII (FHEMIG) para ministrarem a palestra, devido a sua experiência no atendimento às pessoas e de seus familiares e no encaminhamento após a alta hospitalar”, explicou Geralda Célia Barbosa.

O papel da Saúde Pública

Durante o evento, foi debatido o papel da saúde pública na prevenção da tentativa de suicídio, como o preenchimento correto e imediato da ficha de notificação, o fortalecimento da rede e do fluxo de assistência, o fortalecimento das ações intersetoriais e a necessidade de uma capacitação para os profissionais de saúde. A referência técnica da Regional, Geralda Célia, reforçou a importância da notificação obrigatória, pois “é a partir das notificações que se pode pensar em outras políticas e evitar a reincidência dos casos. É por meio do preenchimento da ficha que a assistência pode realizar um trabalho de acompanhamento”.

O coordenador da área temática de Vigilância em Saúde da Regional de Belo Horizonte, Francisco Lemos, chamou a atenção para o sofrimento provocado pelas inúmeras tentativas, de 10 a 20, até que uma pessoa cometa o suicídio e explicou o papel da vigilância epidemiológica e das notificações.

“A vigilância organiza e tabula os dados dos sistemas de informações de mortalidade dos casos que vieram a óbitos e das tentativas de suicídio. E esses dados são fontes para a Atenção Primária, para que possam efetivamente acompanhar os grupos de risco e fazer um trabalho individual de prevenção com aquele cidadão que está em vulnerabilidade e assim evitar que ele venha a fazer uma nova tentativa de suicídio”, afirma Francisco Lemos.

No próximo ano a Regional de Saúde de Belo Horizonte, em parceria com a FHEMIG, irá realizar um curso de capacitação para a assistência dos profissionais de saúde das 39 cidades para o atendimento dos familiares e das pessoas que tentaram suicídio. A Regional irá articular também um Núcleo Intersetorial de Vigilância Interpessoal e Suicídio.

“Começamos internamente com setores da Regional de Belo Horizonte, mas a intenção é que participem representantes de outros setores, como educação, segurança e assistência social e a própria Universidade para fomentarmos essa discussão e pensarmos estratégias de enfrentamento”, disse Geralda Célia.

Participaram do evento os profissionais da assistência, da vigilância epidemiológica e saúde do trabalhador das secretarias municipais, além de servidores da Regional de Saúde e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Onde buscar e ofertar ajuda?

  • Profissional da saúde mental;
  • Centros de Saúde;
  • Em Belo Horizonte: Centro de Referência em Saúde Mental (CERSAMs) e Hospitais de Urgência Psiquiátrica conforme critérios da rede de saúde mental;
  • Em outros locais do país: Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) com o mesmo modelo de funcionamento dos CERSAMs.
  • Centro de Valorização da Vida (CVV): atendimento gratuito às pessoas que querem conversar, sob total sigilo por telefone (188), email, chat e Skype 24 horas, para todo o país. Saiba mais em: https://www.cvv.org.br

 

 

Por Priscilla Fujiwara

Enviar para impressão