O Governo do Estado de Minas Gerais, por meio da Escola de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais (ESP-MG), realizou na última sexta-feira (01/12), a mesa redonda "Trabalho, Saúde e Ambiente: desafios e compromissos na formação e atuação no SUS", como parte das atividades das “Oficinas de Vigilância e Promoção à Saúde em Áreas de Reforma Agrária”.

A atividade teve início com uma tradicional mística das alunas das oficinas e integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) pelos corredores da Escola, que entoaram cantigas e plantaram mudas no jardim da instituição, simbolizando a importância dos saberes populares, da alimentação saudável e a força das mulheres e homens do campo.

Entre os palestrantes da mesa redonda estavam representantes da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agrário (SEDA), do MST, do Observatório da Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, da Floresta e das Águas (Obteia), da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) e da ESP-MG.

O encontro pautou os desafios de atendimento para as populações assentadas, respaldando direitos básicos como alimentação sem o uso de agrotóxicos, acesso aos serviços de saúde pública, moradia digna e educação.

Gestão sustentável

Marta de Freitas, Diretora da Secretaria do Trabalhador da SES-MG e uma das palestrantes, enfatizou a invisibilidade das pessoas assentadas. “Ainda encontramos resistência e rejeição em relação às pessoas do campo. É necessário incluir na pauta da vigilância em saúde, discussões sobre atividades de mineração, acesso à água e produção de alimentos”, disse.

A pesquisadora da ESP-MG, Ana Flávia Quintão, destacou que conciliar crescimento e desenvolvimento não é uma escolha existente no atual cenário de modelo de exploração ambiental. “Nós estamos discutindo sobre esse importante tema, e a Escola está fortalecendo essa questão com cursos de especialização com ênfase na agroecologia, em outras práticas de produção de saúde e de vida. Segundo estatísticas que analisei, a segunda causa de mortalidade no nosso país não são mais causas externas, mas sim as neoplasias, que são os cânceres. Isso significa que a nossa saúde mudou fortemente nos últimos anos”, disse.

Ainda de acordo com a pesquisadora, o Brasil tem a população que mais ingere agrotóxicos no mundo, sendo impossível dizer que a segunda colocação de mortes no nosso país não tem relação com a nossa alimentação, com a nossa água e nossas práticas de cultivo. “A lógica econômica do nosso país e da América Latina é de colônia, somos um mermo celeiro extrativista. Temos que começar a mudar a forma de ver e lidar com a natureza, não explorarmos a natureza, mas sim convivermos com ela”, afirmou.

Agroecologia

Marcela Costa, da SEDA, falou sobre a importância da agroecologia, que produz sem veneno e entende quais são as relações de trabalho no campo. “Esse modelo de cultivo está relacionado ao acesso à cultura, ao lazer e a educação, então, entendendo que agroecologia é tudo isso, nós estamos nesse desafio de tentar titular com as diversas secretarias e políticas públicas para uma mudança necessária”, disse.

Na pele de quem vivência

Isabel Aparecida, do Coletivo de Saúde da Ocupação Dandara (Região de Venda Nova em Belo Horizonte), ressalta a necessidade de conhecimento como meio para conquista de direitos das populações assentadas. "Nós nunca podemos desistir, quanto mais informação temos, mais o acampamento cresce. A pessoa que desiste não é nada no mundo. Se eu vim buscar sabedoria é para aquelas pessoas que ficam de pés no chão, sem esperança. Eu chego com sabedoria, vejo os rostos daquelas crianças e pessoas que estão com o olho brilhando, em busca do que eu aprendi, isso para mim é muito gratificante", orgulha-se.

Para Orlanda Maria de Cunha, do Coletivo de Saúde do MST no Vale do Rio Doce, as oficinas ajudaram a entender a importância da produção de alimentação saudáveis como instrumento de trabalho e qualidade de vida. "A semana do curso foi muito boa para mim, pois abordou as áreas que eu gosto, a saúde e a alimentação saudável. Foram ensinadas melhorias para as práticas que nós temos em campo, para aprendermos a comer o que nós plantamos de maneira saudável e sem venenos. A expectativa com o evento é grande para aprender mais, além do lançamento do livro, que será muito importante para nós no dia a dia", alegrou-se.

Experiências em campo

Ao final da mesa redonda, foi realizado o lançamento do livro "Campo, Floresta e Águas - Práticas e Saberes em Saúde", com a presença de um dos organizadores da publicação, o professor Núcleo de Estudos de Saúde Pública da Universidade de Brasília (UnB), Fernando Ferreira Carneiro, que também é membro do grupo de trabalho de Saúde e Ambiente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO) e coordenador do Obteia.

 

Por Ayrá Sol Soares / ESP-MG