Vinte e cinco de janeiro de 2019, 12h37. A major do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG), Karla Lessa Alvarenga Leal, iniciava mais um protocolo de atendimento no Batalhão de Operações Aéreas da Corporação. Quando alçou voo junto com a equipe de atendimento, em um helicóptero modelo EC 145, adquirido pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), partiu rumo a Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte.

Naquele momento, o Corpo de Bombeiros havia recebido um chamado informando o rompimento de uma barragem em Brumadinho. Às 12h55, a bombeiro e piloto Karla Lessa já sobrevoava a região junto com os outros integrantes da equipe, sendo os primeiros a chegarem no local.

Karla Lessa, que entrou na Corporação com 18 anos de idade, iniciou sua trajetória profissional como cadete, tendo feito quatro anos de curso de Formação de Oficiais. Ela conta que depois desse curso exerceu diversas atividades, até chegar à aviação e se tornar a primeira mulher comandante de helicóptero de bombeiros militar do Brasil. “Atuei em atendimentos diretos de ocorrências, serviços operacionais, atividades administrativas na secretaria, na companhia escola, no setor de prevenção contra incêndio e pânico e, em 2013, fui transferida para o batalhão de operações aéreas”, detalha a major.

Desde o início deste ano, a major atua também na SES-MG, disponibilizada pelo CBMMG. Na secretaria, ela representa o elo entre as duas instituições para tratar de questões relacionadas ao Suporte Aéreo Avançado de Vidas (SAAV), mas também de outras ações que são comuns, tanto aos Bombeiros, quanto à saúde.

Para ela, a mulher pode ocupar qualquer espaço e exercer qualquer profissão e se tem algum sonho ou meta deve sim trabalhar para alcançá-los. “As mulheres precisam confiar nelas mesmas e, antes de falar que não é possível, é importante tentar fazer. Muitas vezes temos algumas limitações criadas pelo ambiente social e assim acabamos por acreditar que há um limite, mas com dedicação, muito estudo e treinamentos, iremos alcançá-los”, salienta Lessa.

Brumadinho

Naquela sexta-feira, 25 de janeiro, às 12h37, um solicitante entrou em contato com o Corpo de Bombeiros (193) via telefone. Tão logo foi efetuado esse chamado, o copiloto que estava em operação na base e que acompanhava o software de atendimento visualizou a seguinte mensagem na tela do sistema: - “rompimento de barragem". Karla Lessa conta que nesses casos soa um toque de campainha, indicando possível ocorrência de atendimento.

“Assim que houve o toque da campainha, me desloquei para a sala de operações da unidade. E, enquanto fazia o deslocamento, o copiloto entrou em contato com o solicitante para confirmar o chamado. Tão logo foi confirmado, já iniciei o acionamento e o restante da equipe buscou material necessário e coordenadas geográficas exatas do local, para chegar o mais rápido possível”, narra a major.

Créditos: Marcus Ferreira

Às 12h55, a equipe já realizava sobrevoo no local. Nesse momento, os integrantes foram divididos em dois grupos para tentar resgatar o máximo de vítimas possível. O médico, o enfermeiro e o copiloto ficaram em um campo de futebol próximo ao local. Já a aeronave em que a equipe estava embarcada conseguiu fazer o resgate de duas mulheres com vida, que estavam em meio aos rejeitos, sendo encaminhadas após primeiros atendimentos ao Hospital João XXIII, da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig).

Suporte Aéreo Avançado de Vidas

Criado em 2012, por meio do Termo de Cooperação Técnica nº 1964, o SAAV, foi celebrado entre a SES-MG e o CBMMG e um dos seus objetivos é a aquisição de aeronaves de asas fixas e rotativas para a prestação de suporte aeromédico. Fazem parte desse trabalho o: atendimento primário (resgate), atendimento secundário (transporte inter-hospitalar), transporte de órgãos e tecidos para transplantes e apoio à Força Estadual de Saúde em caso de catástrofes no território mineiro.

Atualmente, o Suporte conta com cinco helicópteros que cobrem todo o Estado, sendo três desses da SES-MG e dois do CBMMG. As bases de operação se encontram em Belo Horizonte, Varginha, Montes Claros e Uberaba. O SAAV também conta com um avião alugado, que se encontra na base aérea de Belo Horizonte.

A coordenadora estadual de Urgência e Emergência da SES-MG, Erika de Oliveira Santos, salienta que, adicionalmente, foi celebrado entre a SES-MG e o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais um novo termo que fortalece ainda mais a parceria. “Serão adquiridos dois aviões, que estão em processo de pagamento pela SES-MG para prosseguimento à expansão do serviço no estado”, conta.

Além da parte de investimento, é prevista pela SES-MG a manutenção desse serviço de transporte. Sua primeira vigência iniciou-se em 2015 e, até o momento, foi repassado ao CBMMG R$ 20.389.015,04, sendo aditivado em 15/02/19 mais R$ 12.000.000,00 para continuidade do custeio do serviço.

Protocolos

No atendimento pré-hospitalar, normalmente há uma solicitação via telefone 193 ou 192 e há uma regulação e avaliação para a necessidade ou não de envio de aeronave. Somente após essa avaliação, ocorre o empenho da aeronave e o deslocamento para o local.

“Sempre há uma equipe mista, que tripula a aeronave e realiza o atendimento às vitimas graves, sendo composta por bombeiros e profissionais da área de saúde (SAMU)”, explica Karla Lessa.

Créditos: Marcus Ferreira

Já o transporte inter hospitalar acontece via SUS Fácil. O médico assistente responsável pelo paciente entra em contato com a central de regulação, solicita o transporte e envia a solicitação para o batalhão de operações aéreas, que irá avaliar indicação ou não de transporte.

Erika Santos destaca que nos casos em que ocorra necessidade de atendimentos de múltiplas vítimas, incluindo situações de catástrofes com implicações diretas sobre os atendimentos rotineiros na urgência e emergência, são ativados diversos fluxos complementares junto à Rede de Urgência e Emergência (hospitais, UPA, SAMU, UBS, dentre outros). “A logística de organização, nesses casos, é diretamente proporcional a magnitude do evento”, frisa a coordenadora.

Por Ricarda Caiafa